Maçonaria e Cristianismo Brasileiro

PALESTRA MINISTRADA EM ENCONTRO DE PASTORES NA ASSOCIAÇÃO BATISTA OESTE (ABAOESTE)

Introdução

      Considerando que a Maçonaria tem sido conceituada como “uma sociedade de fins filantrópicos e humanitários, mas que pretende influenciar as nações no sentido de uma determinada filosofia de religião... apesar de que as maçonarias em certos países hoje não mais exigem de seus membros a fé em Deus” ([1]), vez por outra alguns cristãos são questionados a respeito de suas relações com a Maçonaria. Esse questionamento quase sempre tem como base uma incompatibilidade entre ser maçom e ser cristão. No Brasil o problema tem sido cada vez mais discutido. Embora alguns sejam favoráveis, cada vez mais está havendo manifestações contrárias.

  1. A questão Religiosa

Entre os católicos havia até a época do Império um convívio harmonioso, quer a nível político, quer a nível religioso. Então, a partir de um incidente quando um padre foi suspenso pelo bispo por ter participado de uma solenidade maçônica ([2]) as relações passaram a ser tensas. Outros bispos também decidiram proibir a participação de maçons em confrarias e irmandades católicas a não ser que renegassem a Maçonaria” ([3]) O imperador D. Pedro II interviu e criou-se a Questão Religiosa”, quando sacerdotes “acabaram presos e condenados a trabalhos forçados em 1874 ([4]). Desde então o Catolicismo afasta-se cada vez mais da Maçonaria.

  1. Debate Presbiteriano

Em julho de 1899 o Presbitério de São Paulo é chamado a responder à pergunta: “Pode um cristão filiar-se à Maçonaria?”. Os debates foram feitos no Sínodo de São Paulo em 1900. Tendo como base essas divergências e a propósito de romper-se com os missionários estrangeiros, a consequência foi o surgimento de uma nova igreja chamada Igreja Presbiteriana Independente, contrária à participação de seus membros na Maçonaria, pois o Sínodo havia concluído que exigir dos crentes que abandonassem a Maçonaria seria abandonar os princípios básicos do protestantismo, a plena liberdade de consciência e retornar aos princípios medievais ([5]).

  1. A Recomendação dos Batistas

Pautando quase sempre por uma estreita relação de entendimento, os batistas brasileiros tiveram inclusive a defesa de maçons que os ajudaram em época de perseguições religiosas ([6]). A harmonia foi crescendo a tal ponto que vários pastores também se tornaram maçons ([7]).

A partir do início dos anos noventa, vários batistas começaram a se opor a essa harmonia, tendo como base as origens, fundamentos, filosofia, ritos e juramentos da Maçonaria. Essa oposição começou a causar constrangimentos e inquietações nas igrejas, fazendo com que o assunto fosse encaminhado à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, em 1994. O Grupo de Trabalho constituído deu parecer contrário à filiação de pastores na Maçonaria, considerando que “na denominação e principalmente nas igrejas, o pastor e o crente em geral tem desafios ainda maiores, para servir à comunidade e a si próprio ([8]). Conclui o parecer, reconhecendo, todavia, que a consciência de cada um deve ser respeitada sobre estar ou não filiado à Maçonaria ([9]).

No Estado do Espírito Santo, a Ordem de Pastores também recomendou em 2003 que os pastores se abstenham de fazer parte, reconhecendo, todavia, que os maçons são pessoas dignas, que devem merecer o mesmo amor” ([10]).

  1. Literatura Específica

No objetivo de persuadir cristãos a que não se filiem à Maçonaria, existem hoje alguns livros à disposição, entre os quais destacamos:

Maçonaria e Fé Cristã, de J. Scott Horrel. São Paulo: Mundo Cristão, 1995.

Maçonaria: Do Outro Lado da Luz, de William Schnoebelen: São José dos Campos, CIC, 1995.

Os Fatos Sobre a Maçonaria, de John Ankeberg e Welson. Porto Alegre: CMN, 1995.

Nesses livros os leitores são orientados a se afastarem da Maçonaria, considerando que muito do que nela existe é “contrário aos princípios fundamentais da fé cristã”, estando “afastada do verdadeiro cristianismo” e sugerindo que o ato de ser maçom implica em “negar o Senhor Jesus”.

  1. Principais Problemas

Entre os vários problemas para o cristão ser maçom, destacamos os seguintes entre os apresentados:

  1. A Maçonaria tem sua própria salvação, sendo que seus membros serão admitidos na Loja Celestial, onde o Supremo Arquiteto do Universo preside, tendo como base a pureza de vida e conduta, isto é, a justiça pessoal e as boas obras.
  2. A Maçonaria ensina que todos estão em trevas até que dela se tornem membros, quando então recebem a Luz, afirmando que até então o candidato havia estado na escuridão, mesmo sendo cristão.
  3. A Maçonaria afirma que o Grande Arquiteto do Universo, sendo o Deus dos maçons, torna-os irmãos de uma mesma família, sendo aceitos sem considerar raça, religião ou credo, estando, portanto, sua fraternidade acima da fraternidade cristã.
  4. A Maçonaria revela que o nome secreto de Deus é “Jabulom”, nome composto por Já (de Javé), Bul (de Baal) e On (de Osíris), misturando o nome do Deus Eterno com os deuses pagãos dos assírios e egípcios, profanando a unicidade e a santidade do Senhor.

Conclusão

Considerando que a consciência de cada um deve ser respeitada sobre estar ou não filiado à Maçonaria” e que a “liberdade de consciência é um dos princípios dos batistas, entendemos que:

  1. somente um maçom, estando dentro da Maçonaria, tem condições de julgar aquilo que está sendo a ele apresentado como filosofia, ritual, símbolo, juramento, pois é uma sociedade secreta (João 7:24).
  2. se um maçom julga que é contrário e outro julga que não fere suas convicções cristãs, o julgamento passa a ser relativo, pois ambos são dignos de respeito em seu julgamento (Romanos 14:1-12).
  3. Quando um cristão, iluminado pelo Espírito e pela Palavra de Deus perceber que sua vinculação com a Maçonaria está prejudicando sua vida espiritual, será persuadido pelo mesmo Espírito de Deus a se afastar (João 16:7-11).
  4. Os maçons cristãos tem inegavelmente dado um bom testemunho em suas atitudes, quer na sociedade, quer nas lojas, quer nas igrejas, não por serem maçons, mas pela formação cristã, sendo, portanto, luz no meio de trevas espirituais onde venham a atuar como exemplos a serem seguidos por maçons de outras religiões.

 

Referências Bibliográficas

[1] Masil, Curtis. O que é Maçonarias? Rio de Janeiro. Editora Tecnofunt S.ª, 1986, pg. 13.

[2] Almanaque Abril. São Paulo: Editora Abrasil, 1994, pg. 96.

[3] Idem, ibidem.

[4] Idem, ibidem.

[5] Émile G. Léornad. O Protestantismo Brasileiro, Rio de Janeiro: Juerp. 1981, pg. 158.

[6] Maçonaria Volta a Interessar Evangélicos, artigo de Israel Belo de Azevedo, in Jornal Batista, 01.10.95.

[7] Anais da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 1995, pg. 65.

[8] Parecer do Grupo de Trabalho “Os pastores e a maçonaria”, apresentado na Assembléia Anual e Congresso da O.P.B.B., Janeiro de 1995, pg. 21.

[9] Idem, ibidem, pg. 22.

[10] Parecer do GT sobre os Pastores e a Maçonaria aprovado na Assembléia Anual de 07/2003, pg. 03.