Lucas 14. 12,13,16-21
HORA E VEZ DOS DEFICIENTES
Introdução
- Em termos gerais, a situação dos deficientes ao longo da história não foi muito favorável. Segundo historiadores, na antiguidade eles viviam à margem da sociedade e podiam até ser eliminados, desde o nascimento, restando a uns poucos ser alvos da caridade pública.
1.1. Pensando especificamente em Roma: “As leis romanas não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. A população encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam os deficientes como feiticeiros ou bruxos. Em Esparta eram lançados em precipícios, pois havia uma supervalorização do corpo belo e forte, pois favorecia a luta nas guerras. Sendo assim, crianças com deficiências ou doentes eram abandonados à própria sorte para morrer. Segundo Pessotti (1984) o período conhecido como Idade Média (XV) as crianças que nasciam deformadas eram jogadas nos esgotos da Antiga Roma. As leis romanas não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. A população encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam os deficientes como feiticeiros ou bruxos. Na Idade Média Martinho Lutero defendia que os deficientes mentais eram seres diabólicos que mereciam castigos para serem purificados e durante a Inquisição, toda pessoa portadora de deficiência que fosse reconhecida pela encarnação do mal era destinada à tortura e à fogueira” (https://www.redalyc.org/journal/5746/574660899019/html/).
- Até mesmo entre os hebreus, havia restrição à participação deles no sacerdócio levítico, conforme ficou registrado: “Diga a Arão: Pelas suas gerações, nenhum dos seus descendentes que tenha algum defeito poderá aproximar-se para trazer ao seu Deus ofertas de alimento. Nenhum homem que tenha algum defeito poderá aproximar-se: ninguém que seja cego ou aleijado, que tenha o rosto defeituoso ou o corpo deformado; ninguém que tenha o pé ou a mão defeituosos, ou que seja corcunda ou anão, ou que tenha qualquer defeito na vista, ou que esteja com feridas purulentas ou com fluxo, ou que tenha testículos defeituosos. Nenhum descendente do sacerdote Arão que tenha qualquer defeito poderá aproximar-se para apresentar ao Senhor ofertas preparadas no fogo. Tem defeito; não poderá aproximar-se para trazê-las ao seu Deus” (Levítico 21:17-21).
- No Brasil, em termos culturais e sociais a situação só começou a mudar mais recentemente, com o surgimento de organizações que passaram a cuidar dos deficientes e com a criação de leis que regulamentam os direitos dos deficientes. Com a nova legislação, vieram as rampas, corrimão, elevadores e banheiros adaptados, sinalizações variadas, divulgação da linguagem de sinais, inclusão escolar.
Desenvolvimento
- Embora a Revolução Francesa tenha proposto igualdade, liberdade e fraternidade para todos, assim como a Declaração dos Direitos Humanos tenha promulgado o respeito à dignidade humana, como as primeiras expressões de mudança em favor dos deficientes, não se pode ignorar que foi através de Jesus Cristo com seus ensinos e suas atitudes que a deficiência deixou de ser vista como expressão de malignidade, de bruxaria e de castigo divino.
1.1. Na situação específica do cego de nascença, Jesus afirmou que nem ele pecara e nem seus pais, mas a deficiência era uma oportunidade para manifestação da obra de Deus (João 9.3). Como demonstração mais ampla dessa afirmação, ele deu atenção aos cegos, mudos, surdos, paralíticos proporcionando cura para todos, assim como portas abertas para a salvação mediante a fé e o arrependimento (Lucas 7.22).
1.2. No ensino específico sobre convidar pessoas para um banquete, Jesus Cristo deu exclusividade aos deficientes e pobres como os que deveriam ser chamados e deveriam participar: “Quando der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos, e os cegos”. Reforçou o ensino na parábola do homem que preparou banquete, mas não foi valorizado por seus ilustres convidados. Então, determinou que os convidados passassem a ser os deficientes e pobres: “Vá rapidamente para as ruas e becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos”.
- Isto significa, de imediato, que principalmente as igrejas precisam mudar a exclusividade do seu público alvo e incluir os deficientes, num gesto de compaixão, valorização e adaptação do seu meio-ambiente e de suas atividades. Além da participação de alguém fazendo interpretação na linguagem de libras, é preciso ir mais além, proporcionando também aos deficientes atividades e programações onde eles se sintam incluídos e alvos do amor de Deus e do amor da igreja. Um dos exemplos mais bem sucedidos é o da Primeira Igreja Batista de Curitiba, PR, que já tem ministérios com surdos, cegos, cadeirantes, cognitivos (https://pibcuritiba.org.br/especiais/).
- Se realisticamente os deficientes não encontram curas milagrosas em nosso tempo, como ocorreu nos dias de Jesus Cristo, além de serem alvos de inclusão social nas igrejas, onde recebam compaixão, valorização e adaptação, os deficientes podem ter certeza de que suas limitações deixarão se existir na eternidade, depois que partirem deste mundo. Aliás, esse é o maior ensino da parábola do grande banquete e da casa cheia. Nessa parábola Jesus estava se referindo à salvação eterna, quando os salvos não terão mais nenhum tipo de limitação ou deficiência. No céu e na eternidade não existem deficientes!
Conclusão
Mais do que agir por influência social, cultural e legal da atualidade, as igrejas cristãs precisam agir no tempo presente seguindo o exemplo de Jesus Cristo ao cuidar dos deficientes. É hora e está na vez deles.