271. Sobre os Originais do NT

Colossenses 4.16

SOBRE OS ORIGINAIS DO NT

Introdução

  1. Para a maioria dos cristãos em nossos dias, basta ter o Novo Testamento traduzido em sua própria língua, a fim de que possam facilmente ler e compreender o que foi escrito sobre Jesus Cristo e sobre os que os apóstolos escreveram. Nesse sentido, várias traduções já foram feitas com esse objetivo, desde a primeira feita por João Ferreira de Almeida, no século XVII, até as atuais, como a Nova Versão Internacional (NVI), publicada em 1991.
  2. Ocorre, todavia, que os incrédulos e ateístas negam a autenticidade da Bíblia, negam a veracidade da Bíblia, negam a originalidade da Bíblia, negam a fidelidade dos textos da Bíblia e negam, consequentemente, o valor da tradução da Bíblia para legitimar o valor da fé cristã.

Desenvolvimento

  1. Pensando especificamente na originalidade do Novo Testamento, um dos argumentos usados pelos incrédulos seria a inexistência dos autógrafos datados do primeiro século, pois os textos que existem são datados do quarto século e teriam sido, portanto, confeccionados muito posteriormente aos fatos ocorridos.

1.1. Esses textos existentes em várias Bibliotecas, datados do século IV, foram escritos num material chamado pergaminho, produzido a partir de peles de animais que eram confeccionadas na cidade grega de Pérgamo, a partir do século II AC. Nesse material estão escritos os textos bíblicos completos, semelhantes aos textos que temos hoje em mãos, com todos os 27 livros juntos.

1.2. As pesquisas nos milhares de manuscritos mostraram que os textos anteriores e mais antigos do Novo Testamento foram escritos em papiro, outro material produzido a partir da colagem de folhas de uma planta existente às margens do rio Nilo, no Egito antigo. Era usado para registrar textos religiosos e governamentais. Isto significa que os primeiros textos dos evangelhos e das cartas apostólicas foram escritos em papiro, pois era de grande uso nas comunidades.

  1. Se não temos os autógrafos escritos em papiro, os principais motivos foram: a) sua fragilidade de preservação, pois facilmente se deteriorava pela humidade, ressecamento, pragas e fungos; b) destruição da cidade de Jerusalém no ano 70 da era cristã e depois a perseguição aos cristãos pelos imperadores. Em Jerusalém, o Templo foi incendiado, a cidade saqueada, grande parte de suas muralhas derrubadas e centenas de milhares de mortos ou escravizados. No mundo greco-romano, as perseguições posteriores feitas contra os cristãos por imperadores romanos resultou num combate feroz e implacável para destruir o cristianismo durante os primeiros séculos.
  2. Esse desaparecimento dos primeiros originais (autógrafos), por alguma razão, pode ser observado num dos textos do apóstolo Paulo, quando escreve sua carta aos Colossenses. Nesse texto ele menciona uma carta que também escreveu aos laodicenses. Essa carta nunca foi encontrada porque certamente despareceu pela deterioração do material ou pela perseguição do império romano. O texto que apareceu depois na Vulgata é considerado uma falsificação grosseira dessa carta, ausente do cânon (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola_aos_Laodicenses).
  3. A arqueologia tem prestado relevantes serviços quanto à existência e veracidade dos primeiros originais (autógrafos) dos textos do Novo Testamento. Este fato pode ser comprovado na descoberta de trechos ou pedaços de pergaminhos. Os mais famosos são os Papiros de Bodmer, Chester Beatty, e os de Oxirrinco. Os Papiros de Bodmer (P66, P72, P74, P75) contêm partes de João, Romanos, 1 e 2 Pedro, Judas, e outros textos cristãos. Os Papiros de Chester Beatty (P45, P46, P47) incluem os quatro Evangelhos, Atos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, e Apocalipse. Os Papiros de Oxirrinco tem uma vasta coleção de fragmentos descobertos no Egito, contendo inúmeros livros do Antigo e Novo Testamento. O Papiro P52 (Rylands Library Papyrus P52) é o fragmento mais antigo conhecido do Novo Testamento (João 18.31-33, 37-38). Esses fragmentos e textos tem a virtude de serem datados no século II e III da era cristã, contendo reproduções que mostram conteúdos iguais aos que você tem em seu Novo Testamento nos dias de hoje. Os pergaminhos referidos pelo apóstolo Paulo a Timóteo 4.13 eram referentes ao Velho Testamento, a Bíblia dos primeiros cristãos.
  4. A pergunta seguinte diz respeito à língua em que esses pergaminhos teriam sido escritos. O Dr. Eli Lizorkin-Eyzenberg, do Israel Institute of Biblical Studies, assim se expressou, abordando o mesmo interesse: “Em que língua foi escrito originalmente o Novo Testamento? Os cristãos têm feito essa pergunta há anos, na esperança de obter uma compreensão mais profunda da Palavra de Deus escrita” (https://israelbiblicalstudies.com/pt/blog/category/jewish-studies/em-que-lingua-foi-escrito-originalmente-o-novo-testamento-dr-eli-lizorkin-eyzenberg/). Seria o hebraico ou aramaico ou o grego?

4.1. Se o aramaico era a língua falada pelo povo judeu em sua vida cotidiana, oriundo dos dias quando viveu cativo na Babilônia, onde essa língua era falada, a hipótese seria de que o aramaico também fosse a língua em que os primeiros manuscritos teriam sido escritos. Embora Jesus Cristo tenha falado em Hebraico na conversão de Paulo (Atos 22.14 e 26.14), os evangelhos mostram Jesus falando também em aramaico algumas vezes (Marcos 5.41; 7.11; 14.36; 15.34). Todavia não existe nenhum texto do Novo Testamento escrito em aramaico e nem em hebraico.

4.3. O único texto escrito em hebraico conforme registros antigos foi o evangelho de Mateus: “Nos escritos dos pais da igreja primitiva, em várias ocasiões, não há menção de um evangelho em hebraico. A referência mais importante e precoce é a de Papias de Hirrapolis (125 dC – 150 dC), um dos primeiros autores cristãos, que escreveu: “Mateus reuniu os oráculos em língua hebraica e interpretou cada um deles da melhor maneira que podia”. Isso significa que nós temos um testemunho primitivo Cristão sobre o documento que Mateus recolheu dos ditos de Jesus, mas que também continham interpretações de Mateus desses ditos” (Eli Lizorkin-Eyzenberg, do Israel Institute of Biblical Studies). Ocorre, no entanto, que esse texto citado por Papias nunca foi encontrado.

4.2. Sendo assim, precisamos lembrar que os judeus dispersos no mundo greco-romano não falavam mais no cotidiano o hebraico e nem o aramaico, mas o grego koine, em virtude da helenização deles. Na experiência do Pentecostes, este fato foi inegavelmente reconhecido, quando mencionaram que falaram línguas dos seus respectivos países onde tinham nascido: “Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (Atos 2.8-11).

4.3. A Bíblia desses judeus era a tradução grega conhecida como Septuaginta. Uma vez que muitos desses judeus se converteram a Jesus Cristo, através da pregação do apóstolo Pedro no dia de Pentecostes e da ação missionária de Paulo nas sinagogas espalhadas pelo mundo greco-romano, naturalmente os quatro evangelhos e as cartas apostólicas foram escritas em grego, a fim de que pudessem lidas e os seus ensinos aplicados.

4.4. Isto sem mencionar o fato de que o evangelho também passou a ser pregado aos gentios de toda aquela região, os quais falavam principalmente o grego koine, fundamental para a disseminação do cristianismo primitivo, pois permitiu que a mensagem fosse comunicada de forma eficaz a uma grande população de judeus espalhados e gentios do Mediterrâneo Oriental e no Oriente Próximo.

Conclusão

Embora os textos completos do Novo Testamento em pergaminhos sejam datados do IV século e outros textos e fragmentos sejam datados do II século – todos escritos em grego koine – podemos ter confiança de que o Novo Testamento que temos em nossas mãos, traduzido dessas cópias, são oriundos dos manuscritos originais (autógrafos), que também foram escritos em grego koine, com “padrões hebraicos de pensamento, raciocínio, gramática e vocabulário, entre muitas outras coisas” (Eli Lizorkin-Eyzenberg, do Israel Institute of Biblical Studies). É como se tivéssemos os originais diante de nossos olhos.