95. Instabilidade Matrimonial

I Samuel 19.12; II Samuel 6.16

INSTABILIDADE MATRIMONIAL

Introdução

  1. Salvo algumas exceções que possam existir no nosso imaginário, todos nós sabemos que as relações matrimoniais normalmente passam por reações instáveis tanto por parte do marido quanto da esposa.

1.1. O ideal seria que todos os relacionamentos conjugais fossem estáveis em suas expressões sentimentais, mas em virtude de a própria natureza humana ser instável e da instabilidade dos acontecimentos do dia a dia, isto nem sempre é possível.

1.2. É claro que a proposta romântica do matrimônio sempre sugere um relacionamento continuamente ajustado, constantemente harmonioso, frequentemente pacífico, eternamente afetuoso. Todavia, o realismo sempre entra em cena mostrando desencontros, desajustes, choque de opiniões, conflito de interesses, divergências de objetivos, diversidade de métodos.

  1. Olhando a história bíblica de Mical e Davi nas páginas do Velho Testamento, essa realidade se mostrou inegável a partir de determinados acontecimentos, mesmo que o romantismo os tivesse unido no primeiro momento.

Desenvolvimento

  1. Mical era uma linda moça, princesa do reino unido de Israel e filha do rei Saul. O início do relacionamento foi um desafio lançado pelo pai dela, que deveria ser atendido por Davi como demonstração do seu amor e o respectivo merecimento para tê-la como esposa (I Samuel 18.27).

1.1. Certamente o início da vida matrimonial foi cercado por um clima de romantismo de ambas as partes, pois os dois perceberam que se amavam. Aliás, a maioria dos casamentos tem como motivação o afeto, o amor ou a paixão, razão porque desejam ficar juntos e fazem votos de união eterna.

1.2. Ocorreu, todavia, que à semelhança do que também acontece em nossos dias, o relacionamento deles foi afetado pelos ciúmes de Saul, como rei. Um clima de competição entre o sogro e o genro começou a atrapalha a vida a dois, a ponto de Saul planejar a morte de Davi.

1.3. Nesse momento dramático, mais uma vez Mical dá provas do amor por Davi ao salvá-lo da ira do pai, ajudando-o a fugir às escondidas (I Samuel 19.11,12). A partir daí os acontecimentos abalaram o relacionamento romântico e passaram a ter dificuldades, inclusive havendo até mesmo separação e um novo relacionamento dela (I Samuel 25.44).

1.4. Com a morte do sogro e motivado pelo amor, Davi exigiu o retorno de Mical para si, tentando retomar o ambiente de romance entre eles (II Samuel 3.15). Todavia, a relação já estava instável e chegou ao clímax do conflito quando Mical desprezou Davi ao vê-lo dançando com a multidão no retorno da arca a Jerusalém. Passando do amor ao desprezo, a relação se desfez e nunca mais foram os mesmos (II Samuel 6.16).

  1. Mesmo que esta história esteja na Bíblia e tenha terminado assim, em nossos dias o relacionamento matrimonial cristão pode de ter outros rumos, com base no perdão, na reconciliação e no amor espiritual.

2.1. O ponto de partida é cada um admitir que também possa estar errado em suas atitudes quando dos desencontros, desajustamentos, choques de opiniões, conflitos de interesse, divergência de objetivos, diversidade de métodos. Uma vez o salmista chegou a essa conclusão: “Isto é enfermidade minha” (Salmo 77.10). Paulo apóstolo recomendava que “cada um examinasse a si mesmo” (I Coríntios 11.28).

2.2. Cada um pode estar errado em virtude de fatores decorrentes de egoísmo pessoal, interpretação distorcida, falhas mútuas, traumas passados, distúrbios orgânicos, influências negativas, desobediência aos ensinos de Deus, ausência de oração e intercessão.

2.3. Davi e Mical nunca mais foram os mesmos, outros criam ambientes hostis e agressivos de cobranças mútuas, há os que lançam mão do divórcio, inclusive como a opção mais civilizada e no legítimo direito de ter uma nova oportunidade matrimonial. Todavia, a proposta de Deus em Jesus Cristo foi muito clara: “O que Deus ajuntou não separe o homem” (Mateus 19.6), “Perdoem um ao outro” (Colossenses 3.13), “Reconciliem um com o outro” (I Coríntios 7.11) "Amem um ao outro" (João 13.34).

Conclusão

Não existem, salvo alguma exceção imaginária, relacionamentos matrimoniais continuamente românticos em que ambos vivam todos os dias num mar de rosas navegando debaixo de um céu sempre azul. O que existe é a inevitável realidade de possíveis dificuldades relacionais que precisam ser tratadas de maneira cristã, a fim de que, mesmo com instabilidade, a vida a dois celebre bodas de prata, bodas de ouro e bodas de diamante.