Atos 15.37-40
USO CRIATIVO DO CONFLITO
Introdução
- Os profissionais que estudam o relacionamento entre as pessoas já admitiram que os conflitos fazem parte da vida humana, onde quer que elas estejam. Alguns desses estudiosos entendem que, onde existirem pessoas ou grupos, haverá divergências de ideias, objetivos, métodos e estratégias. Daí, inclusive, compreendemos claramente o significado da palavra conflito, originária “do latim conflictus, que significa choque entre duas coisas, embate de pessoas, ou grupos opostos que lutam entre si, ou seja, é um embate entre duas forças contrárias” (https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/conflitos-transformando-em-oportunidades/).
- O problema é que em nossa mentalidade cristã, à luz da experiência de conversão e dos ensinos de Jesus Cristo, não existiriam ou não deveriam existir conflitos entre os crentes. Quando o conflito ocorre, com base nessa interpretação, costumamos ficar decepcionados uns com os outros e conosco mesmo, pois não teríamos sido capazes de evitar o conflito. Pior ainda: seríamos julgados pelos de fora como pessoas que uma vez tendo conflitos não seríamos verdadeiros crentes.
Desenvolvimento
- Por mais que esse modo de pensar também fizesse parte da vida modelar do apóstolo Paulo e de Barnabé, o relato bíblico é transparente em informar que eles, mesmo sendo crentes e sendo líderes, viveram um grande momento de conflito. Aliás, o texto bíblico acentua o fato de que “houve tamanha contenda entre eles que acabaram se afastando um dos outro”, cada um seguindo caminhos diferentes. Em seu livro “Conflitos: oportunidades ou perigos”, abordando o conflito entre crentes, o escrito do livro esclarece que conflitos são inevitáveis. Mesmo em situações em que crentes maduros estão envolvidos, eles estão presentes. Eles acontecem em qualquer ambiente e entre qualquer grupo social. (JANZEN, Ernst Werner. Conflitos: Oportunidade ou perigo? Curitiba: Editora Esperança, 2007.
- Uma vez admitida a realidade de que os conflitos também fazem parte de nossa vida pessoal, familiar, profissional, social e religiosa, o que precisamos é lidar com os conflitos de maneira criativa, a fim de que saibamos fazer deles uma oportunidade de crescimento pessoal e relacional.
2.1. Começamos a lidar com os conflitos de modo criativo lembrando que eles podem ser interiores, relacionais e grupais. Portanto, a bem da verdade, antes de perceber a existência de um conflito relacional ou grupal, percebemos sua existência dentro de nós mesmos. Além do já conhecido conflito interno entre a carne e o espírito referidos na Bíblia, também as pessoas costumam ter conflitos internos entre o dizer e o fazer, entre o pensar e o agir, entre os ideais e a realidade.
2.2. Se já existem conflitos em nós mesmos, torna-se inevitável que esse modo de ser se estenda aos relacionamentos interpessoais e aos grupos onde estejamos inseridos. Inevitavelmente ficamos sujeitos a experiências de atritos, desavenças, divergências, contrariedades. Pior ainda: permitir que a amargura, a frustração, o ressentimento, a inveja, a vingança, a punição se tornem nossas ferramentas de ação.
- Portanto, se os conflitos fazem parte da natureza humana, inclusive da vida de crentes em Jesus Cristo, o que nossa experiência cristã e os ensinos de Jesus Cristo vão nos proporcionar é a maneira espiritual de lidar com eles.
3.1. Além de buscar, como os profissionais recomendam, as opções do diálogo, acordo, negociação, ajustamento, colaboração, podemos também olhar mais uma vez da experiência de Paulo e Barnabé, reinterpretando o desdobramento do ocorrido. Em vez de imaginar que, em decorrência do atrito, eles se separaram um do outro e que cada um foi cuidar de sua própria vida, devemos perceber o que eles fizeram: levaram em consideração o plano de Deus para eles dois, quer estivessem juntos, quer estivessem separados. Os dois fizeram o que Deus queria, isto é, saíram para pregar o evangelho.
3.2. Nesse sentido, o segredo, portanto, é considerar, na hora do conflito, não o que cada um esteja reivindicando, mas o que Deus quer para cada um. Seja no conflito interior, seja no conflito relacional ou no conflito dentro de um grupo, são o plano, o projeto, o propósito e a vontade de Deus que devem prevalecer, para que o conflito seja resolvido de modo espiritual e criativo.
Conclusão
Não adianta ter uma visão romântica e utópica da vida, quanto à possibilidade de passar os dias sem nenhum tipo de conflito, mesmo sendo crentes. Mais cedo ou mais tarde, os conflitos vão aparecer e em vez de permitir que gerem desdobramentos negativos, carnais, mundanos e diabólicos, podemos nos colocar diante de Deus em oração, declarando ao Pai Celestial que desejamos sinceramente fazer o Ele quer em nossa vida e em nossos relacionamentos.