268. Sobre o Arrependimento Bíblico

Lucas 13.1-5

SOBRE O ARREPENDIMENTO BÍBLICO

Introdução

  1. Em termos gerais, o conceito de arrependimento pode ser interpretado naturalmente de várias maneiras. Pode significar um remorso sincero ou uma profunda tristeza ou uma atitude de desistência de algo.
  2. Esses significados, por exemplo, são aplicados quando uma pessoa comete um erro e gostaria que tivesse agido diferentemente; quando uma pessoa causa mal a alguém e fica muito triste; quando uma pessoa faz um negócio e quer desistir depois.
  3. Ocorre, todavia, que a palavra usada por Jesus Cristo não quis significar nenhuma dessas situações. Na língua original em que o Novo Testamento foi escrito, a palavra por ele usada foi “metanoia” (μετάνοια), que significava mudança de pensamento ou mudança de ideia e, por extensão, mudança no estilo de viver.

Desenvolvimento

  1. Para ajudar seus ouvintes a aplicar a palavra de modo correto, Jesus Cristo lançou mão de dois acontecimentos ocorridos na época.

1.1. Em um deles, Pôncio Pilatos ordenara o assassinato de peregrinos galileus dentro do templo de Jerusalém e que o sangue deles fosse misturado com o sangue dos animais que estavam sendo sacrificados.

1.2. O outro acontecimento fora a queda de uma torre que ficava na parte sudeste da antiga Jerusalém, perto do Tanque de Siloé, cuja consequência fora a morte trágica de 18 pessoas, que ficaram sob seus escombros.

1.3. Em ambos os acontecimentos, a interpretação precipitada que as pessoas fizeram foi a mesma que ainda fazem até hoje. Eles interpretaram que esses fatos ocorreram com aquelas pessoas porque haviam cometido pecados e estavam sendo punidas por Deus. Diziam: “Esta tragédia ocorreu com essas pessoas porque fizeram alguma coisa muito errada”.

  1. De pronto, Jesus Cristo fez duas correções sobre a crença deles. Aliás, em estudos cada vez mais confirmados, já se sabe que algumas crenças de uma pessoa podem prejudicar sua vida e seus relacionamentos.

2.1. Então, Jesus Cristo corrigiu a crença de que tragédias acontecem na vida de pessoas porque elas fizeram algo de muito errado, algo tremendamente incorreto, algo grandemente falho – seriam inegáveis pecadores. Jesus, então, estaria corrigindo: “Não! As tragédias acontecem na vida de qualquer um. Tragédias não têm como endereço pessoas erradas”.

2.2. Em outro momento, Jesus já teria corrigido outra crença, quando pensaram que um deficiente físico estava nessa situação porque ou ele ou seus pais haviam cometido pecado. Interpretavam que seria também juízo de Deus sobre pecados cometidos. Jesus Cristo igualmente corrigiu, ensinando que nem ele e nem seus pais teriam pecado, mas tal fato ocorrera para glória de Deus. Era o contrário: a deficiência física poderia ser ocasião para manifestação da graça e do poder de Deus (João 9.2,3).

  1. Na sequência, Jesus Cristo foi consequentemente incisivo e claro: na verdade, todos são pecadores e todos devem se arrepender, independentemente do que lhes ocorra na vida. Caso não se arrependam, os efeitos não serão nesta vida, mas na eternidade. Todos os que não se arrependerem de seus pecados neste mundo irão perecer no inferno. A palavra perecer, no original “πλλυμι” (apolumi) pode significar morte, destruição, fim de uma existência de algo ou alguém neste mundo, mas significa principalmente morte infernal, conforme Mateus 10.28: “temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”. Uma vida pecaminosa sem arrependimento é uma vida condenada ao inferno na eternidade.
  2. Em sendo assim, explica-se porque arrependimento é mudança de mente ou mudança no estilo de vida, deixando para trás um modo pecaminoso de viver. O apóstolo Paulo foi pragmático em aplicar essa ideia nos seus ensinos. Ele escreveu aos efésios: “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. Deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo. Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção. Toda a amargura, ira, cólera, gritaria, blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós” (Efésios 4:25-31).

Conclusão

Na Guatemala, a tribo de índios Kekchi tem uma boa palavra para arrependimento, cujo sentido é: “dói meu coração”. Distante dali, no interior da África, a tribo Baouli tem um vocábulo talvez ainda melhor; o termo que usam quer dizer: “dói tanto que quero desistir disso”. E isto que os índios Chol, do sul do México querem dizer, quando descrevem o arrependimento como “o coração volta atrás”. O arrependimento bíblico não quer dizer apenas um sentimento ou uma emoção, mas uma experiência de mudar a mente e o comportamento, principalmente em relação a Deus e a Jesus Cristo.