162. Desejo de Partir

Filipenses 1.21-23

DESEJO DE PARTIR

Introdução

  1. Não há como deixar de perceber que realmente o apóstolo Paulo estava falando de morte, ao declarar: “Tenho desejo de partir”. Se no versículo 23 ele usou o verbo partir (ναλύω), como eufemismo, no versículo 21 ele usou o verbo morrer (ποθνήσκω), que significava literalmente morte do ser humano ou de animais, fosse ela natural ou violenta.
  2. Todavia, a partir dessa percepção não se pode concluir que o pensamento do suicídio tenha passado pela mente do apóstolo Paulo. Traduzindo de modo literal, ele realmente usou a expressão “desejo de morrer”, porém não a usou como pessoas que hoje estão em sofrimento dos mais variados tipos a usam. Conforme tem sido diagnosticado pelos especialistas, o principal motivo do pensamento suicida é a incapacidade emocional de lidar com a dor. No entanto, esse não era o seu caso!

Desenvolvimento

  1. É verdade que a vida do apóstolo Paulo foi repleta de dores e sofrimentos. Na carta escrita aos coríntios, ele faz um resumo dessas experiências, dizendo: “Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um; 25 três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; 26 em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; 27 em trabalhos e fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez” (II Coríntios 11.24-27).

1.1. Todavia, um dos aspectos presentes em sua personalidade é o que hoje se chama resiliência, isto é, a capacidade de resistir às adversidades e perseverar vivendo. Esta qualidade de alguns metais é aplicada a pessoas quando elas lidam com as dores e sofrimentos utilizando forças interiores para se recuperar e prosseguir na vida.

1.2. Entre as suas várias declarações a respeito da sua capacidade de passar por provações e seguir adiante, duas delas são as mais claras: “Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3.12) e “Porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4.11-13). Ele sabia que o fato de ser crente não o isentava de sofrimentos e sua força interior para ter resiliência e perseverança em viver, vinha da presença de Jesus em seu coração.

  1. A interpretação adequada das palavras de Paulo apóstolo quando escreveu sobre desejo de morrer deve ser associada com suas expressões “para mim o viver é Cristo” e “estar com Cristo” depois da morte. Era, portanto uma afirmação doutrinária do que vai acontecer com as pessoas quando se tornam crentes. Elas vivem neste mundo para Jesus Cristo e, quando morrem no corpo, o espírito vai se encontrar com Jesus Cristo. Jesus prometeu e garantiu esta experiência ao ladrão que se arrependeu e nele acreditou, morrendo na cruz: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23.43). Estevão expressou essa certeza quando morreu por apedrejamento, dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7.59).
  2. Mais ainda: o pensamento suicida passava longe de sua mente quando pensava nas pessoas que precisavam dele. Ele não pensava em evitar o suicídio por ser uma desonra na tradição judaica. Ele não pensava assim, porque pensava nas pessoas. Ele deixou escrito: “Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne”. O altruísmo, isto é, a capacidade de considerar as necessidades dos outros que nos cercam (familiares, parentes, irmãos da igreja, amigos), procurando viver para eles é um dos mais eficazes antídotos para impedir o desejo de morrer, mesmo para se encontrar com Jesus. Mesmo que existam indivíduos que nos odeiam e rejeitam, existem os que nos amam e precisam de nós. A pessoa diz: “Alguém precisa de mim” e continua vivendo, apesar dos pesares.

Conclusão

Longe esteja de meu coração deixar de ser sensível para com as pessoas que sofrem e lançam mão do suicídio, principalmente as que estão em depressão. Todavia, uma das informações da O.M.S. é de que “90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados” (https://www.tcrclinica.com.br/noticias/7-sinais-de-comportamentos-suicidas-que-voce-pode-identificar). Podemos contribuir para evitar as tentativas de suicídio quando ajudamos pessoas a serem crentes em Jesus Cristo, à semelhança do apóstolo Paulo, a fim de que saibam lidar com o sofrimento e a morte de modo saudável. Também podemos contribuir, orientando pessoas que estão em depressão a buscarem ajuda médica, enquanto oramos em favor delas.