83. O Prazer Espiritual

Salmo 37.4-6

 

Introdução

       A oração tem sido apresentada aos religiosos como o meio pelo qual necessidades poderão ser atendidas por Deus. Este fato tanto é resultado de promessas registradas na Bíblia, quanto de experiências vivenciadas por aqueles que experimentaram.

Nesse sentido, realmente é muito importante as pessoas recorrerem à oração para:

* solução de problemas familiares,

* cura de doenças e enfermidades,

* superação de dificuldades financeiras,

* vitória nas lutas da vida,

* conforto nas tribulações e angústias,

* obtenção de uma oportunidade de trabalho,

* proteção contra os perigos,

* realização de desejos pessoais.

      Nessa perspectiva, a Bíblia registra a promessa de Jesus: “Tudo que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mateus 21.22). Por isso, o salmista estimula pessoas a buscar a Deus, pois assim o fazendo “receberão o que desejam” e verão “Deus fazendo o que necessitam”.

 Desenvolvimento

  1. Existe, todavia, nessa atitude de estar na presença de Deus para pedidos, súplicas e rogos uma experiência ainda mais importante e que precede o recebimento das promessas feitas. Essa experiência referida é o ato de “deleitar-se”. Em outra tradução, “agrada-te do Senhor”. É a tradução do verbo“anag”, em hebraico e significa prazer, agrado. Antes de receber bênçãos prometidas, o estímulo é para viver o prazer de estar com Deus. Outros termos sinônimos são “delícia”, “encanto”, “gozo”. Todas essas palavras querem expressar o que seja o prazer espiritual. Para tanto, refletindo sobre a prática da oração, é interessante lembrar que ela trata de um relacionamento. Neste caso, o relacionamento de Deus com o ser humano, que teve início no Jardim do Édem. Buscar Deus seria uma atitude cujo objetivo primordial é desfrutar de sua comunhão. Por isso, Jesus Cristo também declarava: “Buscai primeiro o reino de Deus e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33). O autor anônimo do livro “A Oração que Funciona” escreveu: “Creio que grande parte de nossos fracassos é devido ao fato de que não temos examinado a seguinte pergunta: O que é Oração? É bom estar consciente de que sempre estamos na presença de Deus... Mas melhor ainda é ter comunhão com Ele – e isto é oração. A oração, em seu melhor e mais elevado aspecto revela uma alma sedenta de Deus e Deus somente”.
  2. É verdade que Deus está em todos os lugares e principalmente onde existem pessoas reunidas em nome de Jesus Cristo – no caso, a igreja cristã. Todavia, mesmo que Deus esteja presente o relacionamento com Ele pode não acontecer, mesmo que Ele queira ter esse relacionamento e até se faça presente com esse objetivo. È como se duas pessoas estivessem juntas num determinado lugar, mas não se comunicassem nem por gestos, nem por olhares, nem por palavras. No caso da presença de Deus, o relacionamento, a comunhão, a convivência só são plenas quando ocorre a oração que expressa sentimentos e pensamentos do adorador para com Ele. No ato de deleitar-se, o salmista declarava: “Ó Deus, a quem tenho eu no céu senão a Ti; na terra não há quem eu deseje além de Ti” (Salmo 73.25). “Eu te amo, ó Senhor, força minha” (Salmo 18.1).
  3. Uma pessoa pode ter bastante conhecimento a respeito de Deus com base em seus estudos na Bíblia. Pode saber a respeito de sua natureza, atributos, agir. Pode acumular informações bíblicas sobre o relacionamento de Deus com Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi, Jeremias, Paulo. Pode até mesmo fazer belíssimos discursos sobre a relevância de Deus no mundo atual, chegando a apresentar provas de sua existência. Mesmo assim, não ter fé suficiente para se dirigir a Deus em orações e muito menos para expressar sentimentos e pensamentos que tem a seu respeito. Não consegue dizer como o salmista: “Pois tu, SENHOR, me alegraste com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos. Quão grandes são, SENHOR, as tuas obras! Mui profundos são os teus pensamentos!” (Salmo 92.4,5). “Preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei e salmodiarei com toda a minha alma” (Salmo 108.1). “Das profundezas clamo a Ti, ó Senhor. Senhor, escuta a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas” (Salmo 130.1, 2).

Conclusão

       Este prazer espiritual pode ocorrer em atos de culto na igreja, nos encontros de estudos bíblicos nos lares, nos retiros espirituais, nas vigílias de madrugada. Pode ocorrer em lugares para aonde você se dirige com esse objetivo, seja em matas e florestas, à beira do mar ou às margens de rios, em montes ou na planície. Sim, existem lugares e ocasiões propícios para essa experiência, todavia se você deixa de ter comunhão com Deus na ausência desses lugares e ocasiões, você ainda não desfrutou do prazer de estar com Deus a qualquer hora e em qualquer lugar. É como se Deus só estivesse presente em determinados lugares e não principalmente em seu coração. Entenda que o seu coração é o lugar mais importante para Deus. E no seu coração você pode ter uma vida de oração tendo com Ele uma comunhão contínua, deleitosa e enriquecedora de seu existir. Deus prometeu: “Neles habitarei e entre eles andarei; eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. Paulo apóstolo ensinou que essa promessa se cumpre em nossa vida, pois Deus passou a habitar em nosso coração, fazendo dele o seu altar, tabernáculo e templo (II Coríntios 6.16). Portanto, diga agora, em seu íntimo: “Eu te amarei do coração, ó Senhor, fortaleza minha” (Salmo 18.1).