161. Infortúnios na Vida

II Samuel 4.4.

INFORTÚNIOS NA VIDA

Introdução

  1. Para quem não sabe, infortúnios são fatos ou acontecimentos infelizes que sucedem a alguém, em algum momento de sua vida. Popularmente também é conhecido como desgraça ou má sorte que ocorra e que traga muito sofrimento e dor, geralmente surpreendendo a pessoa. Exemplos de infortúnios são acidentes com veículos, perdas de recursos financeiros para pessoas desonestas, êxodo de pessoas em países assolados pelas guerras deixando tudo para trás, calamidades naturais, diagnósticos de doenças graves, morte de familiares próximos deixando órfãos e pessoas viúvas, constatação de algum tipo de deficiência que limita o ser.
  2. O infortúnio que ocorreu na vida de Mefibosete foi o acidente que teve ao cair do colo de sua ama e, como consequência da queda, aos cinco anos de idade, tornou-se deficiente físico de seus dois pés. Por mais que os familiares tivessem contratado uma ama para aumentar os cuidados com ele e, por mais que fizesse parte de uma família de posição social e financeira elevada, teve o infortúnio da queda e da deficiência que o acompanhou pelo resto de sua vida.

Desenvolvimento

  1. Se todas as pessoas e famílias estão sujeitas ao infortúnio, mais cedo ou mais tarde, de um tipo ou de outro, crentes e não crentes, ricos e pobres, cultos e simples, é preciso aprender a lidar com ele, pois seus efeitos podem causar ainda mais dor e dano na personalidade das pessoas. É preciso também ir ao encontro dessas pessoas, para ver o que pode ser feito.

1.1. Às vezes, alguém aparece no objetivo de ajudar essas pessoas e dizem palavras que não proporcionam a ajuda pretendida. Basta lembrar, por exemplo, dos amigos de Jó, que saíram de seus lares, para irem ao seu encontro, no objetivo de ajudá-lo em seu infortúnio e o deixaram ainda mais abatido com o que disseram. O texto registra assim sua reação: “Então, respondeu Jó e disse:  Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura, não terão fim estas palavras de vento?” (Jó 16.1-3).

1.2. Penso que não é salutar, em nossos dias, alguém dizer que o infortúnio não ocorreu ao acaso, sendo, portanto, algo que estaria previsto para acontecer. Também não é uma palavra positiva afirmar que foi da vontade de Deus, razão por que o infortúnio deve ser aceito até mesmo com resignação e gratidão. Ainda não será consolador dizer que os responsáveis precisam ser achados e punidos exemplarmente. Pelo contrário, exatamente porque as pessoas não estão preparadas para acontecimentos e fatos infelizes, dramáticos e doloridos, sendo surpreendidas quando ocorrem, podendo gerar decepção, frustração, revolta, hostilidade, negação do cuidado de Deus, as palavras precisam ser escolhidas e abençoadoras, para que efetivamente ajudem as pessoas a lidarem com seus infortúnios.

1.3. Nesse objetivo de saber o que dizer às pessoas que estão passando por infortúnio, o profeta Isaías disse: “O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos para que eu saiba sustentar com uma palavra o que está cansado; ele desperta-me todas as manhãs; desperta-me o ouvido para que eu ouça” (Isaías 50.4). Aqueles eram dias de adversidade na vida do povo e a ordem de Deus havia sido dada nessa direção: “Consolai, consolai o meu povo” (Isaías 40.1).

1.4. Nesse objetivo, na mesma linha de conduta, o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios em sua carta: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo (II Coríntios 1:3-5). Também os crentes em Jesus Cristo precisam ser consolados, quando lhes acontecem infortúnios, principalmente se foram iludidos com um evangelho que não lhes falou da realidade do sofrimento como parte da vida cristã.

  1. Mais ainda: além de palavras que produzam efeitos consoladores no coração das pessoas atingidas pelo infortúnio, também faz parte das ações ser instrumento de Deus na vida dessas pessoas, como Davi foi na vida de Mefibosete. Depois de viver anos com seu sofrimento, Mefibosete ouviu Davi lhe prometer um lugar em seu palácio e um lugar em sua mesa, providenciando recursos financeiros que iriam suprir suas necessidades e recompensar parte de suas perdas. O texto registra assim esse momento a ser imitado, respeitadas as limitações e proporções: “E Mefibosete, filho de Jônatas, o filho de Saul, veio a Davi, e se prostrou com o rosto por terra e inclinou-se; e disse Davi: Mefibosete! E ele disse: Eis aqui teu servo. E disse-lhe Davi: Não temas, porque decerto usarei contigo de benevolência por amor de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu sempre comerás pão à minha mesa” (II Samuel 9.6,7).

Conclusão

Sei que existem organizações humanitárias e grupos solidários cujos objetivos são providenciar ajuda às pessoas que passam por infortúnios. Sei também que a igreja de Jesus Cristo tem o dever de ser sensível a essas pessoas, indo ao encontro delas para pregação do evangelho e praticar ações filantrópicas. Todavia, o que sei com mais convicção ainda é que cabe a cada um de nós ir ao encontro das pessoas com infortúnios, para ser bênção de Deus na vida delas, seja através de palavras, seja através de atitudes. Ir além de recitar a oração de São Francisco de Assis e ir mais além de cantar o hino “Barnabé”.