93. O Êxtase Cristão

Atos 10.10,11; 22.17

Introdução

  1. Cada vez mais está existindo no meio cristão pessoas dizendo ter experiências místicas, chamadas de êxtase. Os crentes que a estão experimentando dizem ter visões, ouvir vozes celestiais e entrarem em transe.
  2. Estes dois textos mostram dois grandes apóstolos de posição doutrinária reconhecidamente conservadora relatando que também tiveram experiências de êxtase. Pedro apóstolo diz que viu o céu aberto e ouviu uma voz. Paulo apóstolo afirma que viu e ouviu Jesus, que a ele se dirigiu.
  3. Uma vez que os apóstolos informaram a vivência de tal fato e que outras pessoas também dizem ter vivido, precisamos fazer um sério estudo sobre o assunto. O objetivo é fazer com que crentes sinceros sejam respeitados em suas experiências e outros não incorram em perigos e heresias tão em voga nos nossos dias.

Desenvolvimento

  1. A melhor maneira de começar esta estudo é analisar o significado da palavra original em termos históricos e exegéticos.

1.1. O termo êxtase já existia no vernáculo grego e foi usado para descrever um estado de admiração, de temor, de assombro. Nesse sentido foi usado em Marcos 5.42, Lucas 5.26, Atos 3.10. O texto narra que milagres de Deus acontecia e o povo ficava em êxtase, isto é, admirado, atemorizado, assombrado. Era exatamente essa a palavra.

1.2. O termo também foi usado para descrever experiências de transe, de frenesi, de arrebatamento com perda dos sentidos ou perda da consciência. Nesses textos, a palavra foi usada para descrever o que ocorreu com Pedro e Paulo.

  1. Por sua natureza, a palavra usada quer significar um estado alterado da consciência. A pessoa deixa de perceber a realidade através dos cinco sentidos e começa a perceber uma outra realidade. No caso, a realidade espiritual.

2.1. Estudos neurológicos do cérebro revelam que nesse estado alterado da consciência, as ondas beta de 13 a 24 oscilações quando a pessoa está desperta, passam para ondas alfa de 8 a 12 oscilações. A pessoa fica mais relaxada e confortável, sendo mais sensível a essa realidade espiritual.

2.2. Outros estudos neurológicos informam uma diminuição do fluxo sanguíneo na área do lóbulo parietal esquerdo, responsável pela interação do eu consciente com o mundo que nos cerca através dos sentidos. Sabedores desse fenômeno, muitos buscam esse estado alterado da consciência na meditação e drogas.

2.3. Os dois episódios bíblicos informam que ao viverem essa experiência estavam em orações e aí o fenômeno ocorreu. Eles não estavam buscando essa experiência. Ela aconteceu nos momentos de comunhão com Deus.

  1. Outras experiências similares com outras expressões estão registradas em textos bíblicos, descrevendo acontecimentos semelhantes. Daniel diz ter tido uma visão angelical e que “caiu num profundo sono” (Daniel 8.18) e Ezequiel diz que teve uma visão angelical e “caiu sobre seu rosto, ouvindo aquele que lhe falava” (Ezequiel 1.27,28). João apóstolo também descreve uma visão com Jesus e diz ter “caído como morto” (Apocalipse 1.9,10; 4.2; 17.3;21.10). Mesmo usando outras expressões, essas pessoas viveram uma experiência de êxtase.
  2. Se existem cristãos tidos como “místicos”, os quais dizem viver tais experiências, sempre é necessário lembrar que nem todo crente pode ser classificado como místico. Este é um tipo de personalidade que inclusive existe em outras religiões. Os demais crentes que tem outros perfis psicológicos precisam ser alertados que se buscarem esse tipo de transe correm o risco de cair em heresia, simulação ou enganos. Pior ainda se usarem técnicas (respiração, música estridente, imagens multicoloridas em alta velocidade) para entrarem em estados alterados da consciência ou se fizerem uso de drogas com esse fim, quando comportamentos estranhos começam a ser observados na conduta dessas pessoas. A situação pode se agravar porque portas se abrem para possessão demoníaca, que também não deixa de ser uma realidade sobrenatural. Espíritos malignos podem se aproveitar da ausência do eu no transe, quando a pessoa perde o controle de si mesmo.

Conclusão

     Se Pedro, Paulo, João, Daniel, Ezequiel e tantos outros entraram em êxtase quando se achavam em momentos de profunda comunhão com Deus através da oração, não imagem que esse tipo de experiência vai acontecer com todos os demais crentes que também procuram viver na comunhão com Deus. Aliás, basta lembrar que Jesus Cristo, o Filho de Deus, não tem nenhum registro com experiências de êxtases e transes.

  Aliás, se os profetas e apóstolos viverem essa experiência de transe, não recomendaram em seus ensinos que os demais crentes deviam buscar a mesma experiência. O que se acha repetidas vezes em suas recomendações é tão somente a orientação que estejamos sempre em orações, súplicas, clamores, intercessões. O que a Bíblia nos ensina é a “orar sem cessar”. Aliás, sempre uma atitude consciente e intencionalmente.

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Referência bibliográficas:

Gomes, Gareth. Nosso Frágil Cérebro, pg. 181 e seguintes

O Novo Testamento Interpretado, Vol. 1, pg. 83 e seguintes

Revista Religião e Psicologia, pg. 45 e seguintes

Enciclopédia Histórico Teológica, Neoplatonismo, Plotino, pg. 15