86. Democracia Religiosa

Atos 15.5-22, 25, 28

Introdução

  1. Abrindo um bom dicionário qualquer pessoa vai achar que “democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Nesse sentido, nem todos os grupos religiosos existentes pautam suas deliberações com base no exercício da democracia.

1.1. Os católicos romanos tem suas deliberações a partir das decisões do Papa e do Colégio de Cardeais.

1.2. Os protestantes em geral têm suas decisões deliberadas a partir de um sínodo de bispos e pastores.

1.3. Os evangélicos em sua maioria tomam decisões com base na liderança do pastor fundador da igreja ou no máximo de um conselho de obreiros.

  1. Os batistas tem advogado para si a justa distinção de ser o único grupo religioso que pauta pela democracia, pois suas decisões são deliberadas a partir do voto dos participantes de uma assembleia. Os batistas, em seu regime de governo, portanto, são uma democracia religiosa.

Desenvolvimento

  1. Esta posição adotada pelos batistas está baseada na prática constatada nas igrejas primitivas do Novo Testamento. A leitura dos textos bíblicos em Atos mostra os cristãos tendo, pela primeira vez, uma assembleia organizada. As deliberações sobre um determinado assunto foram tomadas pelo povo congregado. Ainda que os apóstolos e presbíteros tenham usado a palavra para defender ideias, foi o povo quem votou as deliberações. Por três vezes ele salientou essa democracia religiosa (Atos 15.6, 22-26).
  2. Se o autor sagrado queria que esse fosse o regime de governo a ser adotado pelas igrejas cristãs que viessem posteriormente, tal prática não se estendeu a todas as igrejas da atualidade, pois nem todas elas conservam essa atitude. Ora é o líder religioso quem decide sozinho, ora é um grupo de lideres eclesiásticos que tomam as decisões.
  3. Outro detalhe importante no relatório que o autor sagrado fez sobre o que aconteceu naquela época, na igreja de Jerusalém, foi acrescentar à prática da democracia religiosa a atuação espiritual que nela ocorreu nos discursos e na votação. O autor sagrado escreveu com clareza: “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. Ele percebeu que a grande virtude numa igreja não está apenas em ser democrática. Ele esclareceu que o Espírito Santo deve conduzir as palavras e deliberações.

Conclusão

À luz dessas desses esclarecimentos feito nas páginas do Novo Testamento, eu tenho temor de dois perigos:

  1. Os batistas percam a prática da democracia religiosa, deixando suas deliberações nas mãos do pastor e de alguns membros, sejam eles diáconos ou conselho de obreiros.
  2. Os batistas salientem orgulhosamente um regime de governo com enaltecimento das decisões pelo povo, em detrimento da atuação do Espírito Santo, com os interesses humanos prevalecendo sobre os interesses de Deus.

Para continuar com o ideal da igreja do Novo Testamento, nossas igrejas devem preservar o regime democrático (também chamado congregacional) e buscar sempre a orientação do Espírito do Senhor. O Espírito Santo atuando na democracia evitará posicionamentos carnais no calor das discussões, tais como contendas e ofensas pessoais. Agindo assim teremos uma democracia espiritual.