Mateus 27.46, 54; Lucas 23.34, 43, 46; João 19.26,27, 28, 30
AS SETE FRASES NA CRUZ
Introdução
- Um dos momentos mais solenes e reverentes na vida humana é a ocasião quando as pessoas tem a oportunidade de dizer suas últimas palavras, antes de morrer. Pensando na relevância desse momento, alguém chegou a escrever um livro, cujo título é “Últimas Palavras: o que você diria na hora da morte?”. Nesse livro, o autor reuniu expressões usadas pelas mais famosas personalidades da história, antes de darem o último suspiro.
- Ocorre, todavia, que por mais que essas citações reunidas neste livro “revelem medo, esperança, humor negro, surpresa, reverência ou simplesmente uma brilhante idiotice, deixando um memorável adeus”, nenhuma dessas frases são capazes de produzir os efeitos na personalidade humana semelhantes às frases que foram ditas por Jesus Cristo quando estava morrendo na cruz do Calvário. Por isso, vamos a partir de agora examinar cada uma de suas frases, dando-lhes seu significado mais profundo.
Desenvolvimento
- Quando Jesus Cristo perguntou por que Deus o havia desamparado, ele não estava apenas se referindo a um tipo de desamparo que os seres humanos podem experimentar. Ele não estava apenas repetindo uma expressão usada pelo salmista, que humanamente também experimentou desamparo humano, conforme está escrito no Salmo 22.1: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?”. O que aconteceu naquela hora, diferentemente do que acontece com todos nós, é que ele assumiu sobre si o pecado de todos nós, tornando-se maldição em nosso lugar. Ao levar sobre si nossas iniquidades, cumprindo sua missão neste mundo, ele recebeu em nosso lugar o juízo e a condenação de Deus. Literal e realmente ficou sozinho para pagar a pena de nossos pecados.
- Se a sua morte foi substitutiva, isto é, morreu em nosso lugar, isto significa que dali por diante ninguém poderia ser condenado por Deus. Este fato teológico explica sua outra frase, quando fez a expiação e disse a Deus, em sua oração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Inaugurou-se naquele momento na cruz do calvário a era da graça, na qual toda a humanidade foi beneficiada. Por isso o apóstolo João escreveu sobre o perdão universal de Deus: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (I João 2,2). Qualquer pessoa, por mais pecadora que seja, pode ser perdoada por Deus.
- Assim como ao longo de sua história, além de manifestar sua identidade divina, manifestou sua identidade humana ao chorar, ao se alegrar, ao sentir cansaço, fome e sede, mais uma vez sua identificação com a natureza humana se tornou inegável, ao dizer: “Tenho sede”. Não era um sofrimento aparente, como muitos já pensaram que fosse. Ele realmente era humano, razão porque o autor da carta aos hebreus definiu: “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 2.17,18; 4.15).
- Em alguns momentos de seu ministério houve alguma dúvida a respeito de sua relação pessoal e afetiva com sua mãe Maria. Por exemplo, quando na transformação da água em vinho, ele disse: “Mulher, que tenho eu contigo”. Também quando o avisaram que sua mãe e seus irmãos consanguíneos queriam falar com ele e disse: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus”. Por isso, Jesus ao ver sua mãe aos pés da cruz, imediatamente mostrou seu amor por ela, deixando-a sob os cuidados do apóstolo João, que entendeu desta forma ao levá-la para casa a partir daquele momento (João 19:27). Não foi inaugurado o culto a Maria, porém declarada a importância de Maria para a fé cristã.
- Restabelecida a comunhão de Maria, sua mãe, com a igreja, o momento seguinte diz respeito a definir a nossa comunhão com Deus, o Pai Celestial, por toda a eternidade. Para que todos nós soubéssemos o que nos espera também após a nossa morte nesse mundo, Jesus disse a um dos salteadores, que nele acreditou e se arrependeu de seus pecados, que as portas do céu lhe foram abertas e que ele estava indo para o Paraíso. Não vamos ficar na sepultura, nem desparecer nas chamas da cremação e nem ser diluídos nas águas dos rios e mares. Nosso espírito, separado do corpo, após a morte irá para a presença de Deus.
- Se Jesus prometeu nos levar para Deus após a nossa morte, então ele mesmo faz a sua oração de entrega pessoal a Deus ao partir deste mundo. Disse: “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito”. Esta frase que já tinha sido usada pelo salmista (Salmo 31.5) e repetida por Estevão na hora de sua morte (Atos 7.59), marca o glorioso início do momento quando ele mesmo havia dito antes: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17.5). Se Deus o desamparou num segundo, chegara a hora do Pai o receber em sua presença eterna, com toda a glória e resplendor.
- Ao dizer sua última frase, traduzida por “Está consumado”, o significado original era de que a sua obra que viera fazer neste mundo havia sido concluída. Este é o significado de “teléo”: levar a um fim, finalizar, terminar, completar, cumprir, pagar. Nada mais precisa ser feito pela humanidade, pelas religiões, pelas seitas, pelas igrejas. O que a Lei de Deus, as boas obras, a justiça pessoal, os sacrifícios de animais, as pregações dos profetas não conseguiram fazer, foi realizado por Jesus Cristo na cruz do Calvário.
Conclusão
Por mais que sejam importantes as últimas palavras antes de morrer de quem quer que seja, nenhuma delas tem a relevância das palavras de Jesus, pois somente elas podem abençoar sua vida presente e sua eternidade.