O DUPLO COMPORTAMENTO
Romanos 7.15-25
Introdução
- É diferente do transtorno dissociativo da personalidade, quando uma pessoa tem comportamentos e atitudes expressando personalidades diferentes, sem que uma tenha consciência do que a outra faz, alternando uma e outra[1]. Também é diferente da esquizofrenia, em que a pessoa apresenta perda de contado com a realidade e alteração de comportamento, mas não chega a apresentar diversas personalidades ao mesmo tempo[2]. O comportamento duplo ocorre quando uma pessoa vive ações e atitudes diferentes das ações e atitudes que gostaria de ter ou que de fato tem em outros momentos, tendo consciência do que está experimentando. Esse comportamento também é conhecido como dupla moralidade ou vida dupla.
- Geralmente este fenômeno ocorre em virtude de padrões de comportamentos que distinguem o certo do errado, o bom do mau, o bem do mal, o moral do imoral. Esses padrões são oriundos de códigos de comportamentos de origem religiosa, que são absorvidos também pela sociedade e são introduzidos na personalidade através do ensino adquirido, mas se conflitam com suas tendências naturais, ao contrário das pessoas que vivem no cotidiano de acordo com o que acreditam, e, por isso, são coerentes[3].
Desenvolvimento
- Vários casos que ocorrem na sociedade podem ilustrar o duplo comportamento ou dupla moralidade: a) uma pessoa acredita e diz que roubar é errado, mas ocasionalmente aproveita alguma oportunidade para pegar algo de alguém; b) uma pessoa declara que ama outra pessoa, mas não consegue deixar de agredir essa outra pessoa; c) uma pessoa sente-se ofendida quando é tratada com discriminação, mas ao mesmo tempo discriminar uma pessoa de cor; d) uma pessoa defende a importância da saúde pública para os outros, mas paga e usa plano de saúde empresarial para si; e) uma pessoa diz a outras pessoas para agirem de um modo, mas ela mesma não age como recomenda.
- Em sua sincera confissão a respeito do que se passava em seu interior e na sua vivência, Saulo de Tarso compartilhou essa experiência. Ele disse de si mesmo: “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. Nesse caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto de mim. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?”. Tinha, portanto, uma vida dupla. Conseguiu descobrir a causa: sua tendência natural pecaminosa que conflitava com a Lei de Deus que ele também queria seguir. Mais ainda: conseguiu descobrir a solução do problema: sua conversão a Jesus Cristo, tornando-se o apóstolo Paulo (Romanos 7.15, 18-21, 24,25).
- Se a experiência de conversão do apóstolo Paulo lhe deu coerência entre o seu agir e o que passou a acreditar, deixando de ter uma vida dupla ou duplo comportamento ou dupla moralidade, isto não significa que resolveu totalmente o problema interior, que se passava em seu coração. Daí por diante, porque sua natureza humana continuava oposta à vontade de Deus, ele continuou vivenciando conflito interno, embora não mais no comportamento. Ele expõe Esse conflito interno que permaneceu em seu coração, nas expressões usadas posteriormente em suas cartas, tais como: “a carne luta contra o espírito e o espírito contra a carne”; “Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne”; (Gálatas 5.16,17). O segredo estava no domínio do Espírito de Deus sobre sua natureza humana.
Conclusão
Existe alguém que consegue ter coerência absoluta espontânea positiva entre sua natureza humana e os padrões morais estabelecidos pela religião e pela sociedade? A resposta de cada um precisa ser analisada à luz da revelação bíblica sobre a natureza humana!
Existem os que têm coerência absoluta espontânea negativa porque não tem padrões morais e seu comportamento reflete exatamente essa falta de moralidade. Agem conforme creem!
Existem os que, à semelhança de Saulo de Tarso, conseguirão coerência entre a moral religiosa/social e seu comportamento ao se tornarem crentes, mas certamente continuarão tendo conflito interno, sujeitos a falharem, sempre lembrando das palavras de Jesus Cristo: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Sempre precisarão, por tudo isto, da suficiência da graça, conforme ensinado pelo apóstolo João: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo" ( I João 2.1)
[1]https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-dissociativos/transtorno-dissociativo-de-identidade
[2]https://cuidadospelavida.com.br/blog/post/pacientes-com-esquizofrenia-podem-ter-multiplas-personalidades
[3]https://conceitos.com/moral-dupla/