Filipenses 1.8
DEIXAR SAUDADES
Introdução
- A experiência da saudade de alguém pode ter um sentido negativo ou positivo.
1.1. Por exemplo, ela é negativa quando o poeta Bastos Tigre diz em sua primeira estrofe da poesia “Canção da Saudade”:
Saudade, palavra doce,
que traduz tanto amargor.
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.
É negativa, porque o poeta associa com espinho, por mais bela e perfumada que seja.
1.2. Ela também, por outro lado, pode ser positiva, por exemplo quando o apóstolo Paulo se recordou dos membros da igreja cristã da cidade de Filipos. Ele diz: “Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo”.
Desenvolvimento
- Fora uma experiência tão marcante em sua vida, que ele não conseguiu deixar de expressar esse sentimento, confessando que o amor pela igreja ainda palpitava em seu coração. Aliás, lendo todas as cartas dirigidas a todas as igrejas por ele organizadas, descobre-se que a igreja de Filipos fora a única que lhe despertava esse sentimento dessa maneira. Mas não foi apenas o apóstolo Paulo que viveu essa experiência. Ele revelou que Epafrodito também sentia o mesmo a respeito da igreja: “Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado para prover às minhas necessidades. Porquanto tinha muitas saudades de vós todos, e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente” (Filipenses 2.25,26).
- Nenhuma pessoa ou nenhuma igreja deixa saudades positiva sem motivos. Procurando descobrir quais foram os motivos dos membros da igreja em Filipos, ao longo de sua carta podemos descobrir vários deles, entre os quais podemos destacar alguns.
2.1. Por exemplo: ele menciona a cooperação que recebera da igreja (1.5). A palavra original “koinonia” pode ser traduzida por cooperação, comunhão, comunicação. Ideia básica: algo feito por pessoas unidas. Para que duas pessoas possam ter algo em comum, é necessário lançar fora o partidarismo, o individualismo, o egoísmo. Jesus há havia dito durante o seu ministério: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mateus 12.30). O profeta já havia deixado escrito: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3.3). Paulo apóstolo e Epafrodito haviam experimentado união com aquelas pessoas, que, em vez de “tirar o corpo fora”, se colocavam à disposição, unindo forças.
2.2. Outro exemplo: ela menciona a participação deles em todas as situações de sua vida. A palavra original “synkoinōnós” queria dizer companheirismo, estar junto com alguém. No caso, ele diz que estiveram junto com ele principalmente nas horas mais adversas, amargas e difíceis, como sua prisão e seu julgamento. Aliás, são nos momentos mais complicadas da vida que mostram os verdadeiros amigos. O livro de Provérbios diz: “Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão” (Provérbios 17.17). Em linguagem atual, significa solidariedade. Alguém escreveu: “Significa se identificar com o sofrimento do outro e, principalmente, se dispor a ajudar a solucionar ou amenizar o problema”.
2.3. Ainda outro motivo: visível obediência a Deus (2.12-14). O conceito de obediência aos pais, às autoridades e a Deus está cada vez mais ausente em nossa sociedade. Para alguém que prega a vontade de Deus e espera que as pessoas obedeçam, é muito frustrante só ver contestação, rebeldia, indiferença, contenda, murmuração. Pior ainda é quando parece que obedece, principalmente porque tem alguém perto, alguém vendo, alguém tomando conta. No caso da Igreja em Filipos, eles mostravam obediência a Deus mesmo na ausência do seu lider espiritual. Em termos espirituais, Samuel disse a Saul: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (I Samuel 15.22).
2.4. Finalmente, a igreja fora capaz de ajuda-lo financeiramente para suprir suas necessidades materiais (4.15-18). Ser capaz de abrir a mão para praticar a beneficência em favor de alguém deveria ser um dos propósitos de toda igreja cristã. Num mundo de pobreza crescente, as recomendações para as igrejas socorrerem as pessoas carentes precisa ser mais visível do que as ações governamentais e das ONGs. Para essa finalidade também são entregues os dízimos e ofertas. Fica muito difícil esquecer uma igreja ou uma pessoa que nos ajuda também em nossas necessidades materiais.
Conclusão
A deixar saudades nas pessoas por causa de atitudes negativas, ruins, indiferentes, maldosas, traiçoeiras – saudades que são espinhos – eu penso que cada um de nós e a nossa igreja deve deixar saudades nas pessoas por motivos positivos, atitudes de união, de participação, de solidariedade, de socorro. Atitudes que nos fazem amar essas igrejas e pessoas para sempre.